O Berço de Sangue

por Mundo Sombrio
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Numa loja escura de antiguidades esquecida pelo tempo, repousava um bebê reborn diferente de todos os outros. Seus olhos de vidro, fixos e fundos, pareciam pulsar com uma vida própria. A dona da loja, uma velha corcunda que nunca sorria, o vendia com uma advertência: “Nunca o deixe sozinho à meia-noite.”

A primeira família o achou adorável. Um casal sem filhos, apaixonado por bonecos realistas. Na primeira noite, os vizinhos ouviram gritos dilacerantes. Quando a polícia chegou, encontraram os corpos do casal estraçalhados — os olhos arrancados, os membros retorcidos como galhos secos, e palavras escritas com sangue nas paredes: “Mamãe, papai, boa noite.”

O bebê sumiu.

Na casa seguinte, foi adotado por uma idosa colecionadora. O corpo dela foi encontrado despedaçado na cadeira de balanço. Suas vísceras pendiam como serpentinas do teto. Seu gato e seu cachorro foram estrangulados com as próprias tripas. O boneco estava sentado no meio da sala, com a boca suja de algo escuro, segurando um pedacinho de dedo como um brinquedo novo.

A cada casa, a mesma história. Famílias assassinadas com requintes de crueldade indescritíveis. Corações arrancados ainda pulsando, rostos esfolados pendurados como quadros, órgãos enfileirados como se fossem parte de um ritual. Nada escapava — nem bebês humanos, nem os animais. O reborn não poupava ninguém. Ele surgia em sites de leilão, lojas de caridade, até mesmo abandonado em portas de orfanatos. E sempre voltava a matar.

As câmeras de segurança captaram apenas sombras — movimentos rápidos, tremores no ar, vultos pequenos com garras. Às vezes, ouvia-se uma risadinha aguda antes do silêncio mortal.

Mas um dia, ele desapareceu de vez.

Sem rastros.

Sem sangue.

Sem cadáveres.

Até que, numa tarde qualquer, um furgão escolar parou diante de uma escolinha infantil no interior. Uma professora desembrulhou um pacote sem remetente, encontrou o boneco embrulhado em papel de presente e o levou até a sala de brinquedos.

As crianças o cercaram, curiosas.

O boneco abriu os olhos.

A professora deixou o bebê reborn na sala de brinquedos da escolinha e se afastou, sorrindo. As crianças se aproximaram aos poucos, encantadas. O boneco parecia ainda mais real à luz do dia, com os olhos de vidro agora brilhando intensamente, como se observassem cada um ali.

Naquela noite, o alarme da escola disparou. O vigilante entrou para investigar e nunca mais saiu. Seu corpo foi encontrado no dia seguinte, aberto ao meio como um livro, com as páginas arrancadas de sua agenda costuradas em sua boca. A câmera de segurança mostrou apenas estática, mas antes de apagar, uma frase surgiu em letras vermelhas na tela:

“Primeiro o recreio. Depois o lanche.”

No dia seguinte, a escola funcionou normalmente. Ninguém sabia do ocorrido — o corpo do vigia havia sido retirado discretamente pela polícia, que não conseguia explicar nada. O boneco ainda estava lá, no canto da sala, agora com as roupas manchadas de algo escuro. A professora pensou que era tinta de alguma brincadeira. Limpou. Não saiu.

Na hora do recreio, o boneco desapareceu.

As crianças brincavam do lado de fora, mas uma a uma começaram a sumir. Sem gritos. Sem rastros. Apenas as sombras se moviam estranho no parquinho.

Uma menina, Isadora, foi encontrada viva. Estava embaixo do escorregador, coberta de sangue, tremendo. Sussurrava uma única frase repetidamente, sem parar:

“Ele quer brincar de casinha…”

A polícia cercou a escola. Nada foi encontrado. Nenhum vestígio das 11 crianças desaparecidas. Nenhuma gota de sangue além do que manchava Isadora. Nenhum sinal do boneco.

Mas naquela mesma noite, em outra cidade, outra escola recebeu uma doação anônima.

Dentro de uma caixa, envolto em papel de presente manchado e com um laço vermelho, estava o bebê reborn.

Seus olhos estavam fechados.

Mas ao abrir a tampa, uma professora jurou ter ouvido uma vozinha infantil sussurrar:

“Mais amiguinhos…

A nova escola era maior, mais moderna. A diretora abriu o pacote achando que era uma doação inofensiva. Lá estava ele, o bebê reborn, olhos fechados, rosto sereno, braços estendidos como quem pedia colo.

Naquela noite, o faxineiro escutou passos minúsculos nos corredores. Risadinhas infantis ecoavam pelas paredes. Ao verificar as salas, encontrou os armários abertos, brinquedos destruídos, cadeiras empilhadas em posições impossíveis. No quadro-negro, escrito com algo pegajoso e vermelho:

“Prova surpresa: só sobrevive quem não chorar.”

No dia seguinte, professores começaram a morrer.

A coordenadora foi achada pendurada pelo intestino na biblioteca, com páginas de livros rasgadas enfiadas em seus olhos. O professor de artes foi encontrado esmagado dentro do forno de cerâmica, com o rosto moldado em argila, sorrindo eternamente.

A escola foi evacuada. Mas 23 alunos estavam desaparecidos.

A polícia entrou em ação, acompanhada de uma equipe paranormal. Vasculharam o subsolo e encontraram um antigo abrigo antiaéreo esquecido sob a escola. Ali, em meio a velas derretidas e desenhos infantis feitos com sangue nas paredes, estavam todos os brinquedos quebrados e… o bebê reborn.

Desta vez, ele não estava sozinho.

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As crianças desaparecidas estavam de pé, imóveis, com olhos vazios e sorrisos congelados. Suas bocas costuradas. Seus corpos, rígidos como bonecas.

E então ele falou.

“Agora somos uma família.”

As luzes explodiram. Gritos tomaram o abrigo. Um a um, os policiais foram despedaçados por mãos invisíveis, tripas arrastadas pelas escadas como cordas de festa. Os parapsicólogos enlouqueceram, arrancando a própria pele, murmurando nomes de crianças desaparecidas há décadas.

O lugar pegou fogo.

As câmeras de segurança mostraram apenas a fumaça. Nenhum corpo foi encontrado. Nenhum sinal de vida. Nenhuma explicação. A escola foi demolida.

Meses depois, numa feira beneficente de brinquedos usados, uma senhora simpática encontrou um bebê reborn muito bem conservado. Um anúncio dizia:

“Nunca usado. Pronto para fazer parte da família.”

A senhora levou o boneco para casa.

Na calada da noite, ele abriu os olhos.

Por: Maikon Lacerda

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