O Catálogo

por Mundo Sombrio
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Laura havia acabado de montar outra aquisição para seu catálogo de serviços. A moça adorava aquela vida e como ela estava a levando. Recebia cerca de 10 ligações por mês e, a maioria das encomendas, ela já tinha em estoque e as que ela não tinha ela conseguia fácil graças a seu outro emprego.

A moça tinha também outras obrigações, bem como: cuidar de sua meia irmã Gabriela e manter as contas da casa. Talvez ela devesse aumentar os preços do seu produto. Enquanto a jovem estava dispersa em seus devaneios, seu telefone tocou por três vezes, mas até que a jovem chegasse perto para atender, a chamada caiu e, como não tinha identificador de chamadas, esperou que retornassem a ligação. Porém isso não aconteceu. Talvez por imprudência perdera outra encomenda, queixou-se mentalmente a garota.

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Gabriela já estava resmungando por não ter jantado e Laura teve de abandonar o telefone para esquentar uma lasanha industrializada. Após o jantar, as duas foram dormir. Lá pela madrugada, o telefone tocou novamente, Laura acordou desesperada e correu para atender. Conseguiu chegar a tempo e perguntou quem era, mas não ouviu absolutamente nada, a não ser ruídos baixos. Achando se tratar de um trote, a jovem desligou a chamada e, quando estava voltando para cama, ouviu o telefone tocar novamente. Ela atendeu e dessa vez obteve resposta.

– Falo com Arual? – Perguntou uma voz rouca e fraca do outro lado.

Arual era o Pseudônimo de Laura. Ela era conhecida assim por todos a quem prestava serviços. Escolheu esse nome porque se tratava do nome dela ao inverso e, assim como seu pseudônimo, o caráter que a moça apresentava enquanto fazia os serviços era completamente o contrário de sua real personalidade.

– Sim sou eu.

– Quero encomendar um de seus pulmões do catálogo, os meus estão péssimos e a fila do transplante no hospital está muito grande. – O homem resmungava aflito do outro lado do telefone. Às vezes parava para recobrar o ar porém logo depois retomava. – Para me entregar em dois dias. Pagarei o dobro e se o pulmão for de um jovem caucasiano e ruivo, pagarei ainda mais. Amanhã entrarei em contato para passar o endereço de entrega.

Laura desligou o telefone e anotou o pedido em sua agenda. Aquele pedido cheio de peculiaridades renderia à ela 20 mil reais, fora que se atendesse as demais exigências o valor seria elevado. Ela só teria de fazer tudo bem rápido e escolher sua vítima.

No dia seguinte, Laura foi para o hospício onde trabalhava de dia e começou a arquitetar o seu próximo crime. Na ala onde colocavam os pacientes quase em estado vegetativo, tinha um jovem caucasiano e ruivo, assim como as preferências de seu cliente. Para sorte de Laura e azar do paciente, os órgãos dele estavam perfeitos. Além da encomenda do senhor, ela teria o restante dos membros para guardar no estoque. A vítima escolhida era o jovem Lucas Mendes, que enlouqueceu e perdeu completamente a sanidade após ter sido violentado e espancado pelo próprio pai.

Laura entrou na sala onde Lucas estava e injetou em seu soro uma substância que paralisava o sistema nervoso e respiratório do paciente por 15 minutos. Assim que fez efeito, ela notificou a morte do rapaz e se encarregou de levar o corpo para despachar, já que os pacientes abandonados ali não tinham família alguma. Laura chegou em sua casa e colocou Lucas deitado em uma cama no porão, pois era ali que ela fazia as suas obrigações.

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Pegou então sua caixa de utensílios e retirou um bisturi. A injeção já havia perdido efeito, mas mesmo assim ela fez uma incisão bem profunda no pescoço do rapaz, o que ocasionou sua morte. Após isso, iniciou o rito cirúrgico: retirou os pulmões e outros membros do rapaz, guardou tudo em seus devidos lugares e o pulmão colocou em uma caixa separada, assim como o escalpo, para provar que era um jovem branco e ruivo.

Laura esperou pela ligação e, quando ela ocorreu, a moça pegou a encomenda e foi ao encontro de seu cliente com uma peruca e uma arma. A primeira pra se disfarçar, a segunda para se proteger. Fez a entrega e recebeu o dinheiro. Ela soube também que o fato de seu cliente ter predileção por pessoas brancas e ruivas era porque seu filho era assim e ele sentia uma atração assustadora por ele, mas como seu filho estava internado, ele se contentaria em ter os órgãos de alguém como ele dentro de si. Laura sentiu repulsa e ligou sua última vítima a seu cliente: os dois eram pai e filho. Ela omitiu esse fato e se despediu, afinal ela tinha de acrescentar órgãos novos ao seu catálogo.


ESCRITA POR: Contos de Ula

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