Gêmeas Idênticas

por Mundo Sombrio
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Eventualmente, todo mundo experimenta a terrível sensação de perda quando um ente querido morre. A morte de um pai é algo que todo mundo passa e é horrível, como uma faca perfurando seu coração. A morte de um irmão ou irmã é ainda pior, especialmente se isso acontece quando você é jovem. Ainda pior do que isso é a morte de uma criança. Sua vida quase para. De alguma forma não é natural. Os pais não devem morrer depois dos filhos. No entanto, há uma coisa que é mais dolorosa do que todas as alternativas acima. É a morte de um gêmeo idêntico. Quando seu gêmeo idêntico morre, parece até que você morreu também.

Minha irmã e eu sempre fomos muito próximas. As pessoas constantemente nos confundiam. Nós éramos gêmeas idênticas. Em vez de ser irritante, foi bastante divertido e nos deu a oportunidade de fazermos muitas traquinagens. Nós sempre nos comparávamos e tentávamos enganar os outros. May e Kay. Kay e May. Era assim que eles nos chamavam. Em casa, compartilhamos o mesmo quarto e brincamos no mesmo quintal. Na escola, nós estávamos na mesma sala e saíamos com o mesmo grupo de amigos. Após a formatura, fomos para a mesma universidade e fomos colegas de quarto no dormitório do campus. Nós até nos apaixonamos pelo mesmo cara, o que era muito estranho, mas ele finalmente escolheu ela, não eu. No entanto, ele ainda conseguia me confundir com minha irmã quase todos os dias, o que sempre nos divertia. Eu nunca tive muita sorte com os homens. Ela era a atraente. Apesar de parecermos exatamente iguais, ela de alguma forma tinha uma personalidade mais atraente. Ela sempre foi popular.

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Logo depois de se formar na universidade, ela se casou e, pouco tempo depois, tiveram um bebê, o que me fez uma tia. Agora, minha irmã tinha duas pessoas que a amavam e eu não tinha nenhuma. Ela sempre foi a sortuda mesmo. As pessoas dizem que, se um gêmeo idêntico está com dor, o outro gêmeo pode senti-la também, mesmo que esteja a centenas de quilômetros de distância. Não acredite. Isso não é verdade. Minha irmã nunca experimentou da minha dor. Ela nunca conheceu o tumulto que estava me devorando por dentro. Ela estava alheia a tudo o que acontecia comigo. A vida dela sempre foi de sucesso em sucesso, mas a minha, sempre fora de controle. Ela estava feliz e eu estava deprimida e, quanto mais feliz ela ficava, mais minha depressão aumentava, quase esmagadora.

Eu nunca senti a dor dela também. É estranho olhar para o seu próprio túmulo, o lugar onde você sabe que um dia será enterrada. É ainda mais estranho se ver em uma fotografia em uma lápide com as datas de seu nascimento e morte gravadas abaixo dela. “May Phillips, nascida em 21/04/1986, morreu em 21/01/2016. Amada filha e querida irmã”. Nenhuma palavra é verdadeira.

Já passava das duas da manhã quando o telefone começou a tocar. Meu marido rolou na cama e gemeu. Eu me compus e atendi o telefone. Com uma voz sonolenta e arrastada, eu disse: “Olá?” Havia uma voz de homem do outro lado.

“Kay Phillips?”, ele perguntou.

“Sim …” eu respondi.

“Desculpe-me por ser eu a contar a você, mas tenho algumas notícias terríveis. Sua irmã, May, foi encontrada morta há duas horas. Precisamos que você vá até o necrotério e identifique o corpo”.

A vida chega a um impasse. O tempo pára. Uma parte de você se foi para sempre. Isso é o que significa ser um gêmeo.

Eu não chorei, pois ainda estava em estado de choque. Eu simplesmente não conseguia espremer as lágrimas.

“Como isso aconteceu?”, perguntei.

“Ela foi assassinada”, disse o policial. “Apunhalada dez vezes no peito. Nós a encontramos em um beco, na esquina do escritório onde ela trabalhava”.

Daí as lágrimas começaram a correr pelo meu rosto. Eu estava chorando tanto que mal podia dizer ao meu marido o que tinha acontecido.

Na manhã seguinte, fui até o necrotério e identifiquei o corpo da minha irmã. Era ela, claro. Como eu poderia deixar de identificá-la? Nós tínhamos os mesmos braços, as mesmas pernas, o mesmo corpo, o mesmo rosto. Era como olhar para mim, deitada em uma mesa fria no necrotério, totalmente nua, apenas com um lençol para me cobrir.

Depois, a polícia quis me fazer algumas perguntas. Eles haviam descartado roubo como motivo. Disseram que quem a matou, teve um motivo pra isso. Que a queriam morta. Foi esfaqueada dez vezes no coração e a única coisa que levaram foi o celular dela.

“Então você diz que a última vez que viu sua irmã foi há duas semanas?”, perguntou o detetive.

Eu balancei a cabeça afirmativamente.

“Nós não estávamos nos falando mais”, eu disse.

“Ela estava com raiva de mim e ela não queria falar comigo. Estava sempre com raiva de mim. Eu não sei porque.”

“Então, nas últimas duas semanas, você não conversou por telefone? Você não marcou nenhum encontro?”.

Eu balancei a cabeça negativamente, incapaz de dizer as palavras. O detetive ficou um pouco surpreso ao saber que não éramos apenas irmãs, mas também gêmeas idênticas. Ele se perguntou se havia uma chance de o assassino nos ter confundido e acidentalmente matado a errada por engano. Isso complicaria ainda mais as coisas. Isso significava que haveria o dobro de suspeitos. Um crime, mas duas vezes mais difícil de resolver.

“Você conhece alguém que queira prejudicá-la?”, perguntou ele.

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“Não”, respondi. “Ninguém. Eu não tenho nenhum inimigo.”

Tempo depois, deixei a delegacia, entrei no meu carro e fiquei lá por um tempo. Não houve lágrimas. Eu só queria rir. Então peguei meu telefone e chequei as mensagens de texto.

De Kay: “Claro, posso te encontrar hoje. Que tal depois de você sair do trabalho? ” Deletar…

De Kay: “Estou do lado de fora do seu escritório. Onde você está? Deletar…

Ela foi enterrada em um túmulo com meu nome. Nossos nomes foram as únicas coisas que nos distinguiram. Agora, não há nada para nos diferenciar. É tão engraçado. Tão engraçado. Tão engraçado… Meu marido está dormindo pacificamente na cama ao meu lado, sem saber que sua esposa está morta. Deve ser um dia triste, mas parece o primeiro dia do resto da minha vida. Desculpe, Kay. Às vezes é necessário fazer sacrifícios para obter as coisas que por direito pertencem a você. Você tinha tudo e agora tudo pertence a mim. Mas você sabe o que eles dizem. Mesmo que os gêmeos sejam idênticos, há sempre al go que os distingue. Minha filha está deitada no berço, mas não vai dormir. Ela continua me encarando e há um olhar estranho no rosto dela. Sei que ela sabe que há algo errado. Ela sabe quem eu realmente sou. Ela é a única que sabe, mas ela não pode contar a ninguém e quando ela tiver idade suficiente para falar, ela vai esquecer que eu não sou você!


ESCRITO POR: ScaryForKids

TRADUZIDO E ADAPTADO POR: Mundo Sombrio

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