Um turbilhão flamejante clareou as pálpebras de Taís, que por motivos óbvios, não queria abrir os olhos. Ela sabia do que se tratava, por isso cismava em ficar com os olhos fechados. Então, algo gosmento e pegajoso correu pelo rosto dela e o cheiro que vinha daquilo era a pior coisa que a moça já havia sentido. Com nojo e pavor, a moça vomitou e resolveu abrir os olhos. Corpos de pessoas mortas, partes de animais e um rio de sangue eram a paisagem atual que Taís observava, sem falar na densa neblina vermelha que lhe queimava os olhos como se fosse pimenta.
Com um pulo, Taís levantou da cama. Os lençóis e sua roupa estavam completamente encharcados de suor. Esse pesadelo se repetia todas as noites e não havia sequer uma noite, em que a jovem conseguisse dormir em paz. Então, a menina se levantou e foi para o banheiro tomar um banho e tentar esquecer aquela sensação terrível que estava sentido. Depois, já de banho tomado, foi ver séries na televisão, pois achava que, se voltasse a dormir, o pesadelo se repetiria, mas a jovem não conseguiu se manter acordada e logo adormeceu.
Taís acordou no outro dia com sua mãe lhe chamando para ir para a escola. Ela ficou muito feliz por ter conseguido dormir sem ter o habitual pesadelo que rondava sua mente. Mais tarde, naquele mesmo dia, ao chegar da escola, a moça foi fazer o almoço para sua mãe, que chegaria para almoçar e logo voltaria para o trabalho como de costume.
O almoço já estava quase pronto quando Taís começou a sentir o mesmo cheiro do pesadelo. Sua espinha travou, seu corpo gelou e a única coisa que conseguiu fazer naquele terrível momento, foi fechar os olhos. Então ela ouviu sua mãe lhe chamar e, não se contendo, abriu seus olhos novamente. Mas ela só conseguiu enxergar seu pesadelo. Os corpos, o sangue, a neblina e os sussurros que, naquele momento, mais pareciam com urros de dor e sofrimento. A jovem fechou os olhos com força e ao abri-los novamente, estava de volta à cozinha e sem sinal de sua mãe.
O tempo foi passando e todos os dias Taís tinha a mesma visão. Não importava se estivesse dormindo ou acordada. Chegou ao ponto de não conseguir distinguir mais a realidade dos pesadelos, de tão habitual que eles ficaram. A sanidade da garota foi se corrompendo com extrema rapidez e facilidade.
Em uma tarde, a jovem se encontrava coberta por um lençol na sala de estar com o corpo tremendo por inteiro. Foi quando uma voz rouca soou bem no seu ouvido e, quando Taís virou assustada para checar do que se tratava, viu o ser mais bizarro que já tinha contemplado. A pele daquilo era toda rachada, os olhos extremamente esbugalhados, um par de chifres em um estado deplorável e, para completar, um rosto com o maxilar prestes a despencar em um estado avançado de decomposição.
Em um ato de reflexo, a moça pulou sobre o ser, começou a estrangular seu pescoço e só parou quando este cessou com seus movimentos. A moça ficou aliviada por ter conseguido se defender daquilo. Mas, logo a alegria dela acabou ao perceber que aquele ser se tratava, na verdade, de sua mãe. Ela havia matado a própria mãe por estrangulamento. Taís então começou a chorar e abraçou o cadáver de sua mãe aos prantos implorando por perdão. Passados alguns minutos ali, a moça sentiu que o cadáver correspondeu ao seu abraço. O corpo de sua mãe levantou e levou Taís até a cozinha, onde colocou uma faca na mão da menina e a incentivou a cometer suicídio. Dessa forma a menina o fez, pois não queria ficar naquele sofrimento por muito mais tempo.
Mais tarde, já estava a notícia sendo veiculada por todos oscantos:
“Mulher mata a própria mãe e logo depois comete suicídio. Os vizinhos relataram que a moça, reconhecida como Taís Carvalho, era uma moça extremamente doce, até que ficou louca por, supostamente começar a ingerir drogas, o que poderia ter ocasionado tamanha violência. Acredita-se, que seu suicídio, fora um meio de tentar fugir do que fizera com a própria mãe”.
Taís acordou novamente com apenas um pulo. Levantou-se da cama, mas agora estava no local de seus pesadelos. Ela realmente estava ali. Então, os monstros começaram a cortar seu corpo e torturar sua alma pela eternidade. Ela não sabia, mas inconscientemente sua alma vagava ao inferno e voltava ao plano terrestre. Desde o seu nascimento, o destino de Taís já estava traçado. Sua alma pertencia ao inferno e o inferno aos poucos veio toma-la.
ESCRITA POR: Contos de Ula e Mundo Sombrio