O Circo e a Maldição

por Mundo Sombrio
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Já era a quinta vez que aquele carro de som passava na minha rua, eu estava estressado, com raiva, puto da vida, ser mandado embora de um serviço que estava prestes a completar dois anos

E ainda na justa causa, não estava nos meus planos mesmo, de alguma forma escutaram meus lamentos, meus queixumes, minhas lamúrias, mas não era quem eu queria que escutasse

Na sexta vez que o maldito carro de som passou, saí na varanda pra saber o que era aquele anúncio insolente que tanto estava me atormentando

“É HOJE! NA PRAÇA CENTRAL, O CIRCO UNIVERSAL CHEGOU, VENHA CONFERIR, APENAS 10 REAIS, A PARTIR DAS 20:00, NÃO PERCA”

Era um maldito circo que sim, eu sabia que estava sendo montado na praça central, mas meus últimos dias não estavam nada bem pra pensar em diversão, mas de algum modo aquilo me tocou, o anúncio que outrora me deu raiva, ali, naquele momento me trouxe um sentimento bom, ingenuamente achei ser bom, como fui idiota

Anoiteceu e eu não estava me reconhecendo, estava eufórico, já tinha separado minha calça, já tinha passado minha melhor camisa, que por sinal não era grande coisa, mas enfim, ajeitei o tênis

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Tomei um banho cantarolando e me banhei exageradamente de perfume barato, mas era apenas um circo, de onde vinha tanto entusiasmo? Eu tinha que ter percebido algo de errado, mas não, como sempre agi como um tolo, como em todos os meus 42 anos de idade

Era mais claro que o sol do meio dia, que o circo, ou algo no circo estava me chamando, estava aos poucos tomando conta das minhas atitudes, olhei no espelho e lá estava eu, dando um sorriso exagerado, mostrando uma felicidade incomum, achei que a falta dela nos meus últimos dias já me fazia não mais compreender essa reação

Coloquei alguns reais que me restavam na carteira, e saí, a noite estava fresca, a lua estava linda, vi um certo movimento de pessoas indo para praça central, indo pro circo, no caminho encontrei Sandro Gangrena, que do outro lado da rua gritou algo apressado que não pude entender com clareza, pensei na hora que fosse “ORTE”

Mesmo não fazendo sentido nenhum, não estranhei, ele só vivia bêbado, mas não era “ORTE” era “MORTE” virei a rua Carmen Palestina e vi uma aglomeração, sim, a três quadras da praça central

Me aproximei e logo vi as pernas de alguém caído, vi muito sangue no chão, era um homem que aparentava ter seus 60 anos de idade, um corte profundo na garganta, uma morte brutal, era muito sangue, muitos perguntavam quem era, Se alguém viu

Ninguém conhecia o morto, e também ninguém tinha visto nada, pra falar a verdade eu também nunca tinha visto aquele senhor agora defunto, mas uma coisa era certa, morte como aquela tão brutal, jamais tinha acontecido no bairro

Eu era estúpido, mas mesmo dentro da minha estupidez, logo pensei que aquilo pudesse estar ligado com o circo, sim circos geralmente trazem alegria para o povo, mas era muita coincidência

Uma pessoa normal daria meia volta e voltaria para casa, mas foi o que eu fiz? Claro que não, eu estava destinado a errar naquela noite de terça-feira

Fiquei por ali estranhamente aglomerando junto ao defunto por alguns minutos, até que chegou o IML, policiais e outras autoridades, mostrando que era a hora de dispersar, eu continuei a caminho do meu destino, ou melhor, a caminho da minha ruína, da minha maldição

Cheguei na praça e vi que no circo também tinham policiais, estavam conversando com um senhor de terno colorido, provavelmente o organizador, chefe, sei lá

Assim como eu, muitas pessoas estavam entrando e se acomodando para a alegria, a morte do homem algumas quadras atrás não tocou de forma abrupta o coração das pessoas, a morte se tornava cada vez mais banal, pra mim também, claro, compartilhava do coração gelado dos meus iguais

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Fui numa portinha improvisada com tijolos para comprar o meu ingresso, chegando perguntei o porque de ter policiais ali, um rapaz de cabelos longos e cara amarrada me respondeu com rispidez

— Deve ser porque é terça-feira cara, sei lá

— Quê? Porquê é terça-feira? Ou estão desconfiando de alguém aqui, tem um cara morto a algumas quadras daqui

— Não somos assassinos amigo, trazemos alegria para o povo, pegue aqui seu ingresso

— Desculpe, não quis ofender

— Mas ofendeu, o próximo

Realmente banquei o tolo, falei demais, mas o cara pegou pesado comigo, achei aquilo negativo, mas mereci a resposta atravessada

Logo na entrada duas figuras me chamaram a atenção, primeiro uma linda garota de maiô de cor amarela, linda, cabelos longos encaracolados pretos, ela estava recepcionando as pessoas, ajudando os mais velhos, me encantei com um simples boa noite que ela me deu, sim, mexeu comigo aquele rosto tão inspirador

A outra figura foi um senhor acima do peso, alto, de barbas brancas e roupas bem surradas, que também me foi muito gentil, dizendo que do alto seria melhor para ver as performances, de alguma forma aquelas duas figuras me impactaram

Depois de uns quarenta minutos os policiais foram embora e pôde começar o espetáculo, eu estava sentado ao lado de uma senhora e seus dois filhos, o que parecia ser mais novo olhava na minha direção de forma estranha, tamanho foi o incômodo que a mãe dos garotos me perguntou o porquê daquilo

— Meu filho está te estranhando, ele não estranha ninguém

— Estou vendo senhora! Deve ser o circo, ele deve estar com medo, eu tinha medo quando era pequeno

Mesmo que eu tentasse prestar atenção nas performances não conseguia, o olhar do garoto era medonho, era direto

Só depois de algum tempo percebi que não era pra mim que ele estava olhando, ele olhava para o assento que estava ao meu lado, ao perceber isso, comecei a sentir uma presença

Olhei pro lado e nada, mas o arrepio chegava lentamente, um mau estar tomou conta de mim, um incômodo que me fazia balançar as pernas, me mexer na cadeira, a mulher percebeu e brigou com garoto

Não só, lhe deu um tapa, aquela situação estava ficando muito constrangedora, tentei me levantar e sair dali, mas minhas pernas travaram, entre aplausos, gargalhadas e sim, a alegria que aqueles palhaços e mágicos estavam fazendo, não correspondiam com aquele mau estar

— Senhor! Está tudo bem? O senhor está suando, Desculpe pelo meu filho, não liga pra ele

— Tudo bem senhora, não brigue com ele, eu que não estou me sentindo bem, deve ser algo que eu comi

O Tempo passava e eu ali, não conseguindo me mover, estava prestes a gritar e sair de vez daquela agonia, quando um vento bateu em meu rosto, um vento quente, a presença que eu estava sentindo ao meu lado, não mais senti, o garoto se distraiu com os palhaços e eu enfim me levantei

— Já vai embora moço?

— Vou senhora, não estou me sentindo bem

— Meu filho te deixou desconfortável né?

— Não senhora! Isso é coisa minha, está tudo bem

Saí rapidamente da tenda chegando numa espécie de estacionamento que ficava na lateral da praça, que dava para um terreno baldio, onde ficava as barracas dos artistas

Pensei que todo aquele mau estar tinha acabado, mas não, era só o começo, senti uma presença, foi aí que ouvi uma voz rouca e medonha

— Então é você que ele está chamando!

Minhas pernas travaram, não tive coragem de virar

Pensei no pior, na minha mente estava na minha espreita o pior dos seres, a pior imagem, até hoje não entendo como não percebi que sim, todo o meu medo estava ali, como fui estúpido, o pânico é algo que trava nosso corpo, trava nossa mente, nossa razão, nos deixa totalmente vendido, sem domínio dos nossos atos

— Travou rapaz, olhe, não tem nenhum mau te esperando, você me viu quando entrou, falei com você, não está lembrado?

— Minhas pernas, meu corpo inteiro está travado, não consigo mover um músculo, não consigo me lembrar de nada, estou apavorado, não sei o que está acontecendo comigo

— Fique calmo, não tem nenhum motivo para temer, as pessoas geralmente temem o circo, isso não se pode explicar, circos trazem alegria, eu faço parte do circo, não sou um estranho, mantenha a calma

Os passos vieram em minha direção e eu travado de tanto medo, era uma respiração forte, um riso irônico, momentos intermináveis, chegou do meu lado e minha visão periférica começou a moldar o que me assolava

— Que droga senhor! Pra que tanto suspense

— Que linguajar é esse meu jovem, pra que tanto medo, não vou te fazer mau algum, na verdade vou te dar um presente, nem consigo acreditar que é minha última terça-feira

— Presente? O senhor nem me conhece, e o que quis dizer com “Ele está me chamando” não entendi

— Calma rapaz, deixa eu lhe pegar um copo d’água, está pálido

Era o senhor de barbas brancas que avistei na entrada do circo, me deu água e começou a me agradecer, proferiu palavras estranhas, disse que eu tinha trazido sua liberdade, disse que estava preso a 33 anos, que não aguentava mais aquilo, ele falava coisas confusas a todo momento, era tudo muito medonho

Não tive coragem de ir embora e deixar o tal homem falando e chorando ao mesmo tempo, a cena ficava cada vez mais bizarra, o homem de cabelos brancos soluçava

Eu não percebi que estava caindo em uma cilada, de repente ele parou e pediu pra eu aguardar, e como um verdadeiro idiota, o que fiz? Claro! Esperei

Depois de uns 10 minutos ele voltou de sua tenda com uma caixinha de madeira, veio sorrindo, não tinha nada de normal ali, eu não o conhecia, não tinha nenhum motivo para que ele me presenteasse com nada, antes que ele chegasse já ouviu minha negativa

— Não vou aceitar presente algum senhor, não tem motivo pra isso, não nos conhecemos, isso é tudo muito estranho

— Não quer nem saber o que é meu jovem? ficou intrigado quando disse que foi escolhido? Eu as vezes confundo as palavras, meus cabelos brancos me confundem

Ele se aproximou, abrindo a tal caixinha e mostrando um relógio que estava dentro dela, relógio muito antigo, aqueles de bolso, um relógio que claramente tinha muito valor, dourado

— É de ouro?

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— Sim! É Blancpain de jehan Jacques, é suíço, você aceita?

— Por quê senhor? Não faz sentido

— Apenas diga que aceita, e pronto, acabamos por aqui

Não fazia sentido algum eu aceitar aquele relógio, mas minha ambição, minha condição não deixou eu negar, foi mais forte que eu, então não neguei, aceitei

— Sim aceito, aceito senhor, esse presente veio a calhar, estou passando por momentos difíceis

— Já está pensando em vender o relógio rapaz? Enfim, não importa, antes de passar para frente esse relógio, vá para sua casa, entre na sua casa

— Sim claro! Mas não vou mentir, vou vender preciso de dinheiro

— Tudo bem, só faça o que combinamos

Achei um pouco estranho, mas naquele momento queria aquele relógio mais do que tudo no mundo

De bate pronto ele me deu e em uma atitude pra lá de estranha, me deu as costas e entrou em sua tenda, mesmo eu o chamando, ele me ignorou completamente

E pior, pude ver quando estendeu a mão, vi sangue em sua mão, ficou claro que sim, foi ele que matou o homem mais cedo, na verdade ele estava se livrando de algo, não dando

— Ei senhor qual é o seu nome, vem cá, como assim, cadê ele? Meu Deus o velho sumiu, o que está acontecendo aqui? Não era real?

Pra piorar eu entrei na tenda do tal homem e para o meu desespero não tinha ninguém, com a mente confusa, morrendo de medo, peguei o tal relógio e parti para minha casa, sem saber que já tinha desgraçado, amaldiçoado minha existência, minha tolice foi minha desgraça

Cheguei em casa confuso, com medo, tinha vivido a experiência mais maluca e amedrontadora da minha vida, mas ter aquele relógio valioso em mãos também me trouxe um conforto

Sabia que vendendo aquilo poderia me manter por algum tempo, estava quebrado, a justa causa tinha me destruído

Coloquei o relógio na mesa da cozinha, fui tomar um banho de tanto que estava suado, as palavras do velho, o circo, a morte do cara, tinha sido uma noite pra lá de estranha, mas quando saí do banheiro realmente vi o que era estranheza

Uma névoa dentro da minha casa, tinha acabado de tomar um banho quente, mas uma névoa densa e fria tomava toda a minha casa

— O quê é isso?

Sem poder ver um palmo na minha frente, ali, naquele cenário bizarro, medonho, tive a certeza de que não tinha trazido apenas um relógio pra dentro da minha casa, tinha trazido o mal, que se manifestou

— Calma meu rapaz, não vou lhe fazer mal, precisarei muito do seu corpo a partir de agora.

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