O Funeral

por Mundo Sombrio
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Dylan não visitava mais ninguém, afastou-se da família, não atendia mais o telefone tão pouco as pessoas quando batiam na porta de sua casa, dessa forma seus familiares e vizinhos foram afastando-se dele, até o dia em que as tentativas de visita-lo cessaram. Três meses atrás não era assim, sua casa estava sempre cheia, eram churrascos nos finais de semana, conversas com o carteiro na frente de casa, chá da tarde nas quartas, todos gostavam muito dele, mas tudo mudou desde o dia do acidente, ninguém sabia o motivo. Raramente era visto no pátio para tomar sol, somente à noite e mesmo assim, poucas vezes. Quando alguém o via durante à noite, ele não respondia, passava do lado das pessoas e no máximo suspirava, – contava Abigail, em frente à casa de Dylan, para o forasteiro que acabara de chegar na cidade.

– Algumas pessoas dizem que ele está morto e quando aparece na rua, é seu fantasma, inclusive um antigo amigo, Jimmy, espalhou para a vizinhança que a alma penada de Dylan o visitou algumas vezes, sempre no mesmo horário, às oito horas da noite. Aqui é uma vila pequena, todos se conhecem, então, o assunto mais falado nos últimos dias é do “homem da noite,” – continuou Abigail, referindo-se a Dylan.

– Pois é, eu vim aqui por isso, e também para lhe fazer um convite, Abigail.

– O senhor é um caçador de fantasmas ou um exorcista? Bem que desconfiei, essa sua roupa toda escura e esse chapelão preto pra esconder seu rosto, só podia ser isso, mas que convite veio fazer para mim? Não conheço o senhor e já está me convidando para quê? – desenfreadamente falava Abigail, não deixando o forasteiro responder, e continuou, – eu não vou a lugar algum com o senhor, vou ficar mal falada, já chega os últimos acontecimentos que tivemos por aqui, e agora um convite de um estranho.

– Calma minha senhora, deixe eu me apresentar, me chamo Thomas, vim de longe, só quero conversar um pouco para entender o que está acontecendo e convidá-la para… – neste momento Abigail interrompe Thomas.

– Calma nada! Nunca vi o senhor na minha vida, nem sei o motivo de estar contando tudo isso, lhe vi parado aqui na rua e começamos a conversar.

– Sim, a senhora me chamou, lembra? Mas isso não importa, aqui está o convite, – Thomas entregou um papel para Abigail, nele havia um endereço e uma frase em destaque.

“CONVITE PARA O FUNERAL”

Abigail ao ler o que estava escrito no papel assustou-se, porém, não entendeu do que se tratava.

– Convite para o funeral, que brincadeira de mau gosto é essa? Um estranho aparece aqui, me entrega um papel convidando para um funeral, que absurdo, vou contar para o xerife, pedir para ele expulsar o senhor daqui ou lhe prender – esbravejou a mulher.

– Sinta-se à vontade, ele também foi convidado.

Após responder para Abigail, Thomas virou-se dando de costas para ela e foi embora.

Não satisfeita com as poucas palavras de Thomas, Abigail foi atrás de respostas. Correu até a delegacia para conversar com o xerife. Ao chegar na delegacia, deparou-se com outros moradores da cidade, todos alvoroçados segurando um papel igual ao que ela havia recebido do forasteiro.

– Você também, Abigail? – Perguntou o xerife.

– O convite, sim, também recebi.

– Acalmem-se! Acalmem-se! – Subindo em uma cadeira e gritando dizia o xerife – irei investigar o que está acontecendo e trarei respostas para vocês, amanhã de manhã terei as respostas, caso alguém descubra algo, nos conte amanhã.

– Pessoal, estamos todos ansiosos e assustados com o tal convite, mas vocês não perceberam um detalhe, – apontou Jimmy, o endereço é da casa de Dylan, o funeral é amanhã, na primeira hora da tarde.

Todos que estavam na delegacia rapidamente olharam para os convites e confirmaram o que Jimmy havia dito, mas havia outro detalhe:

– Somos apenas quarenta moradores aqui na cidade, e todos recebemos um convite igualzinho, mas contei trinta e nove pessoas aqui na delegacia, falta uma pessoa, sabem que é? – resmungou o xerife, ainda em cima da cadeira.

Nesse momento, Dylan entra na delegacia, todos olham surpresos para ele, calados, Jimmy fazendo o sinal da cruz enumeras vezes, Abigail aponta o dedo para Dylan e:

– Dylan, agora não falta mais ninguém.

– Sim, estou aqui para ratificar o convite, já que nossa cidade é pequena e todos estão aqui na delegacia, provavelmente enchendo o xerife de perguntas, decidi vir até aqui para dizer que tudo será esclarecido amanhã, – enunciou Dylan, e continuou – eu não viria aqui mas foi necessário para acalma-los e dizer que espero vocês amanhã.

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– Você nunca mais foi o mesmo após o acidente, não conversa mais com nós, fica escondido dentro de casa. – Desabafou Andréa.

– Cale-se, você não sabe o que está dizendo, Andréa, – defendeu-se Dylan.

– É passado, Dylan, você não tem culpa do incêndio, estamos bem, acidentes acontecem, mas você preferiu se afastar de todos nós – continuou Andréa.

– Uma tarde de domingo, todos os moradores da cidade estavam em sua casa, festejando seu aniversário, Dylan. Nos divertimos muito, era frio, por isso comemoramos no salão de festas da casa, porque lá tem uma lareira grandona para espantar o frio, mas um descuido causou um acidente, uma fagulha saiu da lareira e pegou na toalha causando o incêndio, ficamos bem, só inalamos um pouco de fumaça. Isso não é motivo de você ter se afastado de nós esse tempo todo, meu amigo – explicou Jimmy.

– Tudo bem, te entendo Jimmy, por isso espero por vocês lá, em minha casa para dar início ao funeral, no mesmo salão de festas, vamos dar um fim nisso.

No dia seguinte, os moradores da cidade estavam na delegacia conforme combinado com o xerife, todavia, nenhuma novidade do xerife nem das outras pessoas. Então, combinaram de ir até a casa de Dylan, conforme estava no convite.
Na primeira hora da tarde encontraram-se em frente à casa, o xerife foi logo entrando para dentro do pátio. Até que o forasteiro surge na porta de entrada da casa.

– O senhor ainda por aqui? – com um semblante de irritação impugnou o xerife.

– Sim, nada mais justo, eu entreguei os convites, então, serei eu a leva-los até o salão, antes que…

– Pare de falar, vocês está me deixando inquieta, vamos logo, quero saber quem é o defunto – empurrando Thomas, emitiu Abigail, – e retomou – sei que é o fantasma de Dylan, eu tive um sonho na noite passada, ele pegou em minha mão e estava morto, foi um sinal, e aqui estamos para o funeral dele, o que estamos vendo nesses três meses é o fantasma de Dylan, só agora irá descansar, após seu funeral, deve ter se matado, sentiu-se culpado porque o acidente foi em sua casa.

– Bom, creio que você começou a entender alguma coisa, vamos para o salão, – convidou Thomas.

Ao entrarem no salão os moradores da cidade ficaram chocados com o que viram. Dylan e outras cinco pessoas, todos de branco, esperando os convidados, o anfitrião estava chorando, mas se controlou ao ver todos entrando no salão.

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– É o fantasma de Dylan, eu sempre soube disso, deve ter nos chamado aqui para pedir perdão mais uma vez e descansar em paz – sussurrou Andréa.

– Dylan pediu a palavra:

– Meus amigos, eu sempre fui bom com vocês, nasci aqui e conheço cada um de vocês, mas chegou a hora de me despedir de vocês e seguir em frente. O domingo do meu aniversário deveria ser de festa, mas Jimmy provocou um incêndio, e não foi acidental, eu vi tudo, por isso consegui conter o fogo, mas a fumaça ceifou…

– Não diga mais nada, volte para o inferno, Dylan, – gritou Jimmy.

– Não me interrompa – continuou Dylan – não foram três meses que se passaram, mas três dias, não era minha alma penada que viam durante a noite, mas sim eu no pátio chorando enquanto os bombeiros da cidade vizinha recolhiam os corpos, eu não me afastei de ninguém nesses três dias, vocês tem impressões diferentes, pois estão mortos e vim aqui para pedir a vocês que me deixem em paz e sigam para o mundo dos mortos.

Nesse instante uma luz muito forte clareou o salão onde uma espécie de filme mostrou a todos como morreram. Seus corpos espalhados pelo salão, todos mortos por inalar fumaça e não conseguirem sair lá de dentro, pois Jimmy se prontificou de trancar tudo antes de causar o incêndio. Porém, perdeu as chaves no meio da confusão e desespero das pessoas, ficando trancado com elas e morrendo também. As cenas eram fortes, gritos, desespero total até que um a um foi morrendo. Dylan de forma surpreendente sobreviveu, encontrou as chaves no chão e consegui escapar. Tentou salvar algumas pessoas mas estava muito fraco e era tarde demais.

Após a visualização do crime, a mesma luz branca levou todos os convidados para o outro lado, para o mundo dos mortos, antes de partirem, agradeceram Dylan. Já Jimmy, foi tomado pela escuridão e sugado por um buraco negro que surgiu em seus pés.

– Agradeço todos vocês por me ajudarem a esclarecer o que aconteceu aqui, dando paz para todos nós, os bons foram para os céus, e o mau para as trevas, pensei que Jimmy era meu amigo – concluiu Dylan.

– A maldita inveja, meu caro Dylan – respondeu o padre Thomas, que continuou – mais um caso resolvido, vamos embora e convido você a refazer sua vida em nossa cidade, lá a comunidade também é pequena, você irá gostar.
Então, Dylan juntamente com o padre Thomas e seus cinco ajudantes da igreja foram embora.

Por: Agui De Rossi

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