Por Helena, 45 anos:
Tem dias em que eu sinto pontadas no peito. Não consigo me mexer! Não tenho forças! Quero voltar a ser como antes, alegre e bem disposta! Peço ao meu marido Paulo, 37 anos, que me leve ao médico. Mas ele diz que “são apenas manias minhas, que eu só preciso descansar”.
Agora acordo com alguns hematomas no corpo, peço ajuda ao Paulo, e ele só me diz que “pode ser apenas alergias”.
Sinceramente, não sei o que tenho. Os dias passam e agora são mais freqüentes os dias que acordo com hematomas. Passam-se semanas e eu me sinto cada vez pior, dói cada centímetro da minha pele e cada um dos meus ossos!
Paulo é muito carinhoso e bom comigo. Ele me leva para o quarto, me dá analgésicos para as minhas dores e massageia meu corpo dolorido. Diz que vai falar sobre o meu caso com o amigo dele que é médico.
Espero que me ajude porque, mesmo que o meu marido diga que “não é nada”, eu sinto que é uma coisa má. Eu sinto que a morte está me rondando, que está ao meu lado e acho que ela está me chamando.
Nos meus sonhos, a morte me diz que tenho que ir. Eu me recuso a morrer, eu me recuso à ir com ela! Mas Deus, o que eu posso fazer???
Para mim a morte aparece, não como àquela caveira com capa e capuz preto, brandindo uma foice. Mas uma mulher, vestida de branco, dos pés à cintura, lembrando deusas gregas!
Mais um dia que acordo dolorida! Agora estou com dificuldades em sair da cama, acho que vou precisar de ajuda.
Paulo trouxe-me o remédio que o seu amigo médico me receitou. Ele me dá esse remédio, dissolvido em um chá e beija minha testa, dizendo:
“– Vai ficar tudo bem!”
Eu fecho meus olhos e me pergunto: “Como, vai ficar tudo bem? Eu me sinto morrer um pouco mais à cada dia.”
Eu sei que a morte está na minha cama, no colchão, nesses lençóis brancos.., eu sei que ela dorme deitada ao meu lado, porque o ar do meu quarto tem cheiro de morte e ela vem sussurrar no meu ouvido.
Chega a noite, Paulo traz o jantar e diz:
“– Helena, come alguma coisa, para que você possa tomar seu remédio! Para você se recuperar! Verá, amor: você vai melhorar em breve e deixar de sentir dores.”
Eu quero abrir meus olhos, mas estou me sentindo muito cansada. Estou com muito, muito sono, tenho medo de dormir, sei que não me faz muito bem dormir. Sinto que meu amado Paulo cuida de mim, essa é a minha única paz em meio a tanta dor.
Seu celular tocou e o que eu ouvi foi horrível!!! Ele fala com uma mulher e diz:
“– Meu amor, não se preocupe! Tudo vai acabar em breve.”
Meu Deus, o que é tudo isso que eu estou ouvindo? Vou fingir que estou dormindo e que não ouvi nada. Paulo sai do quarto apressado, para continuar falando com uma possível amante.
Agora eu tenho uma dúvida: Paulo estará me matando??? Será veneno, o que ele está me dando??? O chá que ele me dá, tem um gosto amargo.
Antes que a morte me leve, preciso saber o que se passa comigo, preciso saber a verdade. Meu Deus! O que faço agora? Não tenho mais forças para sair desta maldita cama!!!
Paulo volta para o quarto outra vez e diz:
“– Helena acorda! O jantar está bem aí ao seu lado.”
Eu abro meus olhos e só lhe digo:
“– Deixa-me dormir, por favor! Só mais um pouco, depois eu vou comer.”
Ele está com pressa! Acho que ele tem um encontro com a amante, porque que ele me diz:
“– Não há problema! Descanse, depois coma. Tome os remédios, mas não se esqueça de beber o chá todo! Tenho que sair por algumas horas, porque algo aconteceu no escritório.”
Eu apenas aceno com a cabeça e não abro os olhos. Não quero que ele note meus olhos banhados de lágrimas de dor ou que descubra que ouvi a sua conversa.
Chorando de raiva e ódio, pedi à morte que me dê apenas um pouco mais de tempo, pois queria saber a verdade.
Tive tempo para pensar: só vou comer até conseguir fugir… de minha própria casa. Comi o jantar, mas o remédio e o chá deixei prá lá.
Passados alguns instantes, já sinto um pouco de força para andar, consigo chegar na cozinha, para procurar os medicamentos.
Mas só encontro um saco estranho, que tem um pó branco; dentro dele tem uma colher pequena. Eu provo e é amargo, como o chá que ele me dá. Acho que isso é o veneno! Acho que isso é o que está me matando aos poucos!
Não sei o que fazer! Tento sair e a porta está trancada. Meu celular, não consigo encontrar faz dias e o telefone de casa não funciona. Como eu não percebi antes de todos esses detalhes??? Ninguém me ligou, nem minhas amigas, nem minha família!
Tenho que pensar em algo antes de morrer. Esse pó branco é parecido com bicarbonato. Eu troco por ele e o veneno deixo em um lugar onde a polícia possa encontrar com facilidade. Vou preencher tudo com esse pó: no frasco de açúcar, no de sal e até nos temperos gerais.
Eu sei que me falta muito pouco tempo de vida! É tão forte a minha dor, que acredito que à qualquer momento a morte me levará.
A morte tem sido a minha única companhia esse tempo todo. Ela é implacável e não vai poupar a minha vida. O veneno está em mim, sinto que percorre toda a minha corrente sangüínea e rodeia em todos os meus órgãos – por isso essas dores insuportáveis.
Acho que esta é a minha última noite. Irei dormir. Mas já preparei a minha vingança.
Eu sei que a morte está dormindo por enquanto. Ela dorme tranqüilamente na minha cama. Deitar-me-ei ao lado dela e farei-lhe companhia. Talvez eu possa sonhar com um mundo, onde não exista maldade nem hipocrisia.
Mas… acordei. Acho que estou morta, porque não sinto mais dor!
Uma enfermeira vem ter comigo e pergunta “como estou?”. Eu digo-lhe que estou muito bem e que já não sinto dor, e pergunto-lhe “onde estou?”. Ela me diz que cheguei no hospital muito mal há dois dias, e o médico já vem falar comigo.
Eu deixo minha imaginação voar. Deus, o que aconteceu??? Paulo teve pena de mim? Ou talvez o pó branco não fosse veneno? Talvez tenha sido apenas um delírio da minha mente atrofiada pela dor e febre.
A enfermeira volta e me diz que, antes, vem a polícia me fazer algumas perguntas, que agora é a polícia quem está falando com o médico. Deus, Paulo estará preso? O que vai acontecer?
A polícia chega na beira de meu leito e, a primeira coisa que ela faz, é me dar as “condolências”, pela morte do meu marido. E pergunta se eu sei porque estou no hospital?
Respondi:
“– Eu estou atordoada, não sei o que pensar. Só sei que há dois meses estou me sentindo doente, com muita dor e, nos últimos dias, não tinha mais forças para sair da cama.”
A polícia me diz, segundo o médico, que Paulo tinha me dado um veneno muito forte, que se tomado em pequenas doses é imperceptível em uma autópsia. Mas se ingerido em doses maiores, são fatais, que mata em menos de duas horas e faz com que as vítimas sofram com muita dor e que até sangram pela boca e pelos olhos.
Disse o inspetor:
“– Aparentemente, Paulo acreditou que o veneno tinha feito o seu trabalho e decidiu levar a sua amante até a sua casa e, ao cozinhar um jantar romântico, envenenou-se junto com ela.
Uma vizinha ao lado, ouviu os gritos de dor deles e chamou a polícia. Era muita dose que eles tinham ingerido. Eles sangravam pela boca e seus olhos. Foi uma cena horrível.
Depois, encontramos você, inconsciente, à beira da morte. Eu acho que é um milagre você ainda estar viva! Quase dois meses dando-lhe o veneno em pequenas doses… Dê graças ao médico que lhe salvou a vida!”
É aí que o médico entra e me diz que o veneno ainda não tinha danificado nenhum órgão. Agradeci ao doutor!
O médico vai embora e eu fico sozinha pensando no que aconteceu. Com certeza Paulo preparou o jantar para a amante e usou o sal junto com todos os condimentos que eu enchi com o veneno.
Dias depois, voltei para minha casa e novamente a morte visitou-me e disse-me:
“– Ainda não foi a sua hora, mas você me entregou duas almas perversas e mesquinhas.”
Eu disse-lhe:
“– Vou esperar por você, morte, quando chegar a minha vez. Eu juro, não vou resistir em morrer. Você já dormiu ao meu lado e fomos cúmplices na minha vingança!”
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Autora: Dolly M., da obra “Medo e Calafrios”.
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