A Maldita Casa de Gerhard

por Mundo Sombrio
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Gerson, 38 anos, 1,70 de altura, 70kg, moreno claro, cabelos pretos e curtos, trabalhava há dois anos na imobiliária da família, como Avaliador de Imóveis – foi a extensão de sua formação profissional como Corretor de Imóveis.

O pai, Sr. Álvaro, diretor-proprietário, gerenciava a empresa, muito conhecida e de renome na Capital gaúcha. Era fim de tarde e, mostrando alguns documentos ao filho, disse:

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“– Recebemos esta casa para avaliar e vender. É coisa de herança, já liberada para negócio e preciso que vá lá. Parece que é uma grande propriedade, com uma mansão desabitada há tempos. Pertenceu à Wolfgang Gerhard, é de família germânica e acho que a casa tem esse estilo. Com certeza precisa de reparos mas, de preferência, que fique à cargo de quem comprar.”

“– Ok. Amanhã cedo vou lá!” – respondeu o filho.

Gerson era casado com Ângela, loira clara, 35 anos, 1,65m de altura e 60 quilos bem distribuídos, cabelos ondulados pelos ombros e tinham dois filhos – dois pré-adolescentes.

Ela teve sua formação acadêmica em Química Farmacêutica e trabalhava em importante laboratório. Mas no momento, estava nos seus últimos dias de férias e quando Gerson comentou sobre sua avaliação, ela resolveu ir junto.

Eles moravam num apartamento em área centralizada da capital gaúcha e a tal casa ficava no extremo Sul da cidade, na localidade chamada de “Lamí”, e ainda em estrada vicinal, quase no limite do município com Itapuã, um distrito de Viamão/RS, banhado por adjacentes do Rio Guaíba – cerca de 40 km do Centro de Porto Alegre.

Era um dia nublado, sem sol mas ainda sem chuva e, com certa dificuldade, encontraram a casa numa área inóspita, quase deserta mas com muita vegetação. Pararam o carro logo na entrada e Ângela exclamou:

“– Credo! Que coisa horrível. Mas, engraçado, tenho a sensação de que já vi essa casa antes!” (ver foto abaixo).

“– Você nesse lugar?” – indagou Gerson.

“– Eu disse “sensação”!!! Capaz que eu moraria aqui. É um fim de mundo! Talvez eu tenha sonhado com algo parecido!”

“– Bom! Vamos lá?”

“– Não tem medo de entrar nessa casa medonha?” – indagou a esposa.

“– Por que haveria de ter? No máximo, o que pode ter aí é algum morador clandestino”. – respondeu ele.

“– Parece casa mal assombrada!” (ver foto abaixo) – murmurou Ângela, abrindo a porta do carro e já saindo.

Um silêncio pairava no ar pela falta de vizinhança nas proximidades, só quebrado pelo canto de alguns pássaros. A fachada da casa, em mau estado, realmente era em estilo “enxaimel” (casas típicas alemãs).

Com a chave em punho, Gerson abriu a porta sob o famoso som de dobradiças secas pelo tempo e, tendo as narinas tomadas pelo fedor de môfo e pó, disse:

“– Ora veja: mobiliada!”

“– Cuidado! Com certeza deve ter cobras e lagartos nesse tipo de lugar.” – comentou Ângela.

Assim que ela passou, a porta “fechou-se”, escurecendo onde estavam.

“– Vou ter que catalogar tudo! Acho que no carro tem uma lanterna no porta-luvas.” – disse Gerson.

“– Deixa que eu vou lá pegar! Tínhamos que ter era uma arma, isso sim!” – disse ela.

“– Tolice!” – finalizou Gerson.

A casa era de dois pisos e mais um sótão de dois andares (quatro pisos). Após a porta de entrada, no hall onde Gerson estava, se enxergava um corredor largo, cheio de aberturas para cômodos à esquerda e direita. Ao fundo, uma grande porta envidraçada, mas opaca pelo pó. Antes, no corredor à direita, tinha uma abertura de porta clareada, supostamente por alguma janela daquele cômodo.

Quando Gerson baixou a cabeça, para verificar em sua pasta uma caneta e o formulário para catalogar “bens móveis e utensílios”, de relance viu uma mulher com muletas, tendo uma das pernas atrofiada, entrar nàquela porta aberta clareada:

“– Ei…” – gritou Gerson, correndo até a porta e… ninguém!

Era uma sala sem nenhuma outra porta e apenas uma janela, com uma das venezianas aberta, mas o vidro fechado. Nisso, Ângela entra pela porta da frente, trazendo a lanterna:

“– Gerson?”

“– Estou aqui.” – responde ele, saindo de onde estava.

“– O que tem aí?” – pergunta a esposa, dando alguns passos no corredor.

“– Ããã… nada! É um escritório abandonado. Vim olhar por causa da… claridade! É de uma janela semi-aberta.”

A porta da frente, deixada aberta por Ângela “se fecha”, batendo mais uma vez. E eles ouvem o céu trovejar ao longe.

Ela, ao virar a cabeça para a direita, vê numa pequena sala, após o hall de entrada, um piano na parede ao fundo, com um grande espelho embutido atrás, do chão ao teto:

“– Olha! Um piano.” – exclamou Ângela.

Ela se precipita para admirar o instrumento coberto de pó, enquanto o marido volta para sala de entrada para iniciar o seu trabalho. Ela toca uma tecla e, sem querer, olha para o espelho:

Muda e paralisada ela vê, no reflexo, atrás dela, o vulto de um homem alto, coberto com capa e capuz preto, cuja a face lembrava uma caveira, que rapidamente disse com uma voz rouca:

“– Você por aqui? Vieste me atormentar também?”

Ela dá um grito, se volta, mas o vulto some. Confere de novo no espelho e nada. Gerson corre para acudí-la e Ângela diz o que aconteceu. Acrescenta:

“– Ele parecia me conhecer! De quem era essa casa afinal?”

“– É de família germânica e o herdeiro não quis tomar conhecimento de nada, pretendendo verder logo.”

“– Alemães??? Nem eu, nem você temos essa descendência. Pelo que sei, seus pais e os meus, e até nossos avós, nada tem haver com essa raça.”

Percebendo a esposa mais calma, Gerson conta sobre o vulto da mulher, que ele viu instantes atrás.

“– Eu vi um homem e você uma mulher! Tá bom isso! Ao menos ela não te disse nada!” – ironiza Ângela.

“– Vamos voltar para a sala da frente. Agora ficaremos juntos.” – determinou Gerson.

“– Eu disse que essa casa era mal assombrada!” – resmunga ela.

“– Pelo que sei, assombrações só assustam: não podem nos tocar!” – encoraja o marido.

Enquanto isso, o tempo lá fora escurece para forte chuva e a casa anoitece por dentro. O trovejar de relâmpagos, agora, é mais perto e anuncia um mau clima.

Gerson ironiza:

“– Não é você que gosta de filmes de terror? Parece que estamos vivendo um! Por favor, segure a lanterna e foca nos móveis, um por um, para que eu possa catalogar, sim?!!”

“– Assistir é uma coisa, estar dentro de um filme de terror é outra!” – disse Ângela ao segurar a lanterna.

Nisso, ouvem um gemido doloroso vindo do fundo do corredor, após a porta de vidro, roubando a atenção do casal.

“– Que diabo é isso?” – indaga ela.

“– Vamos ver!” – decide ele.

“– Pode ser aquele homem de novo.”

“– Ou a mulher!” – completa Gerson.

Ao abrir uma das abas da porta de vidro, viram uma ampla sala de jantar, que se estendia no sentido horizontal, em relação ao corredor, com longa mesa ao centro quase no comprimento da sala, e com vinte cadeiras ao redor – havia também outras três portas de vidro e com duas abas, nas outras três paredes divisórias.

Para o lado direito, no chão, um homem se arrastava com as duas mãos, tendo o seu corpo formado até a cintura. Vestia uma camisa de manga longa, de cor branca encardida e seu aspecto era de sofredor, desnutrido e sujo. Foi se aproximando, se arrastando e, quando chegou perto do casal, levantou uma das mãos, como se pedisse ajuda e… “sumiu”.

Gerson e Ângela ficaram mudos por instantes e antes mesmo de falar…

Um choro de criança pequena passou a ser ouvido, vindo do andar de cima. Era um choro doloroso e o casal se apressou em abrir a outra porta de vidro, da direita de onde estavam e, seguindo o som, subiram a escada, iluminada apenas pela lanterna.

Em cima, era um corredor largo, bem sobre a sala de jantar, com seis portas, possivelmente para seis quartos, tendo a segunda porta desse corredor, mais ou menos ao meio, já aberta… de onde vinha o choro, cada vez mais forte, de uma criança de colo.

Ao chegarem na porta, pararam ao ver uma criancinha, com cerca de nove meses, deitada numa pequena cama e, ao se aproximarem, ela virou o rosto prá eles, mostrando parte da outra face severamente queimada, quase aparecendo os ossos.

Ângela, cheia de compaixão, foi tentar pegá-la mas a criança “desapareceu”, sumindo à olhos vistos.

Um murmúrio de gente e passos se arrastando passou a ser ouvido do corredor, onde há pouco estavam. Saíram do quarto e Gerson usou a lanterna para vê-los:

Um pequeno grupo de pessoas, com rostos deformados por queimaduras e outras feridas, se aproximavam, vindos do fundo desse corredor. Alguns com tocos de árvores, improvisando muletas, com suas pernas atrofiadas, outros com apenas uma das pernas, tendo a outra amputada e também vários outros no chão, se arrastando.

Seus aspectos eram de pessoas desnutridas, sujas e esfarrapadas. Não falavam, apenas gemiam e alguns choravam. Entre eles, homens e mulheres adultos, idosos e crianças entre cinco e dez anos, todos com algum tipo de deformidade e com os mesmos aspectos.

Gerson e Ângela em pânico, trataram de sair dali e também da casa. Relâmpagos e chuva torrencial cobriram o lugar.

Ao descerem e passarem novamente pela sala de jantar, viram que havia um grupo bem maior de “pessoas” parecidas com as que acabaram de ver no andar de cima, rodeando a mesa. Com cautela, o casal foi para a outra porta de vidro já aberta anteriormente, à sua esquerda, e se apressaram para a porta da frente.

A porta trancou e, enquanto Gerson tentava desemperrar, Ângela olhou para trás e deu um grito:

Dezenas de vultos negros tomavam conta do corredor e se aproximavam deles, cada vez mais. Ao mesmo tempo, se ouvia pela casa gritos desesperados, choros e bateção de martelos em ferro. Com fúria, Gerson conseguiu abrir a porta.

Quando saíram, viram nitidamente diante deles, um homem coberto de capa e capuz preto, caminhando, da direita para à esquerda e dobrando para os fundos da casa.

Disse Gerson:

“– Vai para o carro, querida! Eu já vou!”

“– Gerson, Gerson… Não!” – gritou Ângela, ao ver o marido ir na mesma direção do suposto homem.

Atrás da casa, à cerca de uns 50 metros, havia uma grande árvore à beira de um rio, que cortava o terreno, cujas duas margens eram tomadas por vegetação.

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Gerson avistou, sentado no tronco da grande árvore, com os pés dentro do rio, aquele homem, de cabeça baixa, coberto de capa e capuz preto. Surpreendentemente, ele se manteve assim, até Gerson se aproximar o suficiente para ambos “conversarem”:

“– Quem é o senhor?” – indagou Gerson.

“– Não interessa. Basta saber que sou o dono desta casa.” – respondeu, sem se mexer.

“– E àquela gente? O que é aquilo?” – insiste Gerson.

“– Tudo isso… é o meu tormento! Conseguiram sair da casa? Pois bem… alguns não conseguiram. Achei que eu tinha morrido, mas não: ainda estou aqui… eu e o meu castigo!”

“– Esta casa vai ser colocada à venda, mais cedo ou mais tarde. E vocês?”

“– Continuaremos aqui. Quem quer que venha, daremos um jeito!”

Gerson firmou os olhos para enxergar melhor o “sujeito” e pôde ver que o rosto e as mãos eram de uma caveira. Deu alguns passos para trás, virou-se e foi andando em direção ao carro. Olhou várias vezes prá trás, enquanto caminhava, e a “criatura” permaneceu sentada, onde estava e do mesmo jeito.

Entrou no carro e, finalmente, deram o fora dali. Dia seguinte, na imobiliária, botou o laudo de avaliação de imóveis na mesa de seu pai, com a seguinte conclusão:

Avaliação total do imóvel: “ASSOMBRADA”!!!

Epílogo

Durante a II Grande Guerra, nos Campos de Concentração nazistas de Auschwitz e Ravensbrueck, foi onde foram concentradas inúmeras experiências em humanos, na grande maioria judeus e ciganos encarcerados, fazendo-os de cobaias vivas, para testes de origens médicas e científicas.

O alemão Josef Mengele, médico da SS, conduziu e chefiou “experimentos” médicos desumanos e, muitas vezes, fatais em prisioneiros de Auschwitz, utilizando crianças de todas as idades, adultos e idosos. E em inúmeras vezes sem anestesia, causando seqüelas e deformações permanentes, assim como o óbito imediato ou mesmo lentamente, sem quaisquer medicação sedativa às dores e mutilações, causando um definhamento doloroso às suas vítimas.

Mengele se tornou o mais conhecido dos “carrascos” nazistas, que conduzia “experimentos” em pessoas vivas nos Campos de Concentração. Ele era conhecido como o “anjo da morte”. Foi freqüentemente lembrado, pelos judeus que puderam relatar denúncias nos comitês de justiça pós II Guerra, por sua constante presença na “rampa de seleção” de prisioneiros, onde ele definia “para o trabalho ou para a morte” em Auschwitz.

Após 1945, Mengele passou três décadas fugindo e vivendo sob nomes falsos, o que caracterizou a ineficiência dos serviços de inteligência dos Estados Unidos, Rússia, Israel e outras grandes potências sobre a promessa de busca, caça e encaminhamento à justiça de guerra, dele e de outros carrascos nazistas, para as devidas punições.

Em 7 de fevereiro de 1979, Mengele sofreu um derrame e se afogou, enquanto nadava numa piscina, em um hotel-resort, durante sua hospedagem, na região de Bertioga, São Paulo, Brasil. Ele foi enterrado em um subúrbio de São Paulo com o nome falso de “Wolfgang Gerhard”. Mas antes disso, soube-se de inúmeros paradeiros pelo Brasil, desse repudiável algoz.

Fonte: Holocaust Encyclopedia.

Considerações

(Pelo ponto de vista Espírita):

Todas as vítimas da 2ª Guerra (e outras), foram socorridas espiritualmente após as desencarnações, sendo a grande maioria já reencarnadas. Espíritos como Adolph Hitler e os seus carrascos, pertencem à falanges trevosas do Umbral e, sobre as suas existências físicas na Terra, não cabe à ninguém julgar esses desígnios de Deus.

Não existem regras gerais na Espiritualidade, mas a maior probabilidade é de que esses maus espíritos ainda expiam pelos seus males de diversas formas, inclusive em mundos mais primitivos.

Na história acima, a “casa de Gerhard” é um possível paradeiro do carrasco fugitivo e, por isso, era impregnada de energias nocivas e negativas, tornando-se um antro de outros espíritos, tão trevosos quanto àqueles. Os que se manifestavam deformados, era porque eles mesmos plasmavam essas aparências para tão somente amedrontar, liderados por um mais “evoluído”, que plasmava para si a aparência de “anjo da morte”.

Ângela, em existência passada, foi uma química especializada em genética que, durante a gestão de Josef Mengele, na 2ª Guerra, trabalhou sob suas ordens mas sem nenhum contato com as vítimas. Gerson era um médium ativo de nascença e tinha vagas noções sobre o Espiritismo.

A não existência de descendência de raças, países e regiões, não significa que um espírito não possa reencarnar em berço diferente de sua origem.

Fonte: FERGS – Federação Espírita do Rio Grande do Sul.


Nomes e locais preservados. Foto original, localização preservada. Figura ilustrativa do “anjo da morte”, produzida por IA (Inteligência Artificial).

Textos, adaptações e pesquisas: Sérgio Gitel.

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