Desde que seus pais compraram uma banheira com pés, Janey se sentia pouco à vontade quando ia ao banheiro. Seu pai disse que era uma banheira vitoriana antiga, mas ela suspeitava de que ele tinha comprado aquela velharia por um preço baixíssimo em um antiquário qualquer. Quase tudo o que eles tinham em casa já tinha sido usado por alguém, pois seu pai não conseguia resistir a um desconto.
Algo sobre aquela banheira antiga a incomodava. Talvez fossem as manchas marrom-avermelhadas escuras e feias na porcelana. Talvez fosse a maneira como as pernas retorcidas de ferro fundido da banheira se projetavam em um ângulo estranho. Pareciam as patas de alguma besta monstruosa e disforme. Às vezes, ela imaginava a banheira de repente se levantando e saindo correndo do banheiro enquanto ela estava de costas.
Janey tinha quase 13 anos, mas sua mãe ainda a tratava como uma criança, dizendo à ela a hora de se levantar, quando fazer a lição de casa, quando ela poderia assistir TV e quando ela deveria ir para a cama.
Seus pais pareciam discutir constantemente sobre tudo. Mesmo a menor coisa gerava uma rivalidade que durava horas. Ela não conseguia se lembrar de uma época em que houvesse paz e tranquilidade na casa deles. Durante todo o dia, gritavam um com o outro nas mais calorosas das discussões.
Frequentemente, à noite, quando seus pais gritavam e berravam, Janey colocava um travesseiro sobre a cabeça para abafar o barulho e chorava até dormir. Com todo o caos vivido naquela casa, a jovem às vezes sentia que estava perdendo a cabeça.
Ultimamente, ela tinha começado a duvidar de sua sanidade mental cada vez mais. Toda vez que ela ia ao banheiro para tomar banho ou escovar os dentes, ela via coisas com o canto do olho. Refletida no espelho, ela podia ver a banheira com aqueles pés tortos atrás dela.
Uma vez, ela pensou ter visto sangue escorrendo da torneira. Mas quando ela se virou para olhar, as torneiras não estavam abertas. Em outra ocasião, ela imaginou ter visto alguma forma escura e sombria deitada na banheira, com a cabeça mal aparecendo para fora. Claro, ela se virou, seu coração enfrentando medo, mas a banheira com pés estava vazia.
Sempre que se despia e entrava na banheira para tomar banho, tinha a estranha sensação de estar sendo observada. Os cabelos de sua nuca se arrepiavam e ela sentia como se alguém estivesse olhando para seu corpo nu.
Uma noite, enquanto tomava banho, deixou cair o sabonete. Ao se abaixar para pegá-lo no fundo da banheira, ela perdeu o equilíbrio e caiu para trás. De repente, pareceu que mãos a estavam agarrando e segurando sob a água.
A garota apavorada chutou e se debateu, eventualmente se libertando das patas invisíveis que pareciam agarrar com força sua pele. Gaguejando e ofegando por ar, ela achou ter ouvido uma risada fraca ecoando pelo pequeno banheiro.
De manhã, ela decidiu fazer uma visita à loja de antiguidades local onde seu pai havia comprado a banheira com aqueles pés horríveis. Quando ela perguntou ao proprietário sobre a banheira “vintage” que ele havia vendido alguns dias antes e ficou chocada com a história horrível que ele tinha para contar.
Aparentemente, a velha banheira com pés datava da era vitoriana. O homem disse que outrora pertencera a um assassino em série infame chamado George Haigh. O queixo de Janey caiu e ela começou a tremer de medo.
O homem disse que o assassino atraía meninas para sua casa e preparava um banho naquela banheira para elas. Então, enquanto elas se banhavam, ele as espiava por um buraco que havia feito na parede. Quando menos elas esperassem, ele se lançava sobre eles e mantinha suas cabeças debaixo d’água até que morressem afogadas. O malvado assassino então retalhava seus corpos com um machado e jogava os pedaços no lixo. Depois que várias meninas desapareceram na área, seus atos terríveis finalmente o alcançaram.
Certo dia um vizinho estava bisbilhotando seu lixo quando encontrou os horríveis restos mortais e logo entrou em contato com a polícia. Eles o prenderam e o homem foi a julgamento. Posteriormente, foi considerado culpado de todos os desaparecimentos e executado por enforcamento.
Janey ficou terrivelmente aterrorizada. Ela percebeu que tinha que convencer seus pais a se livrarem da maldita banheira com pés antes que algo horrível acontecesse. A jovem correu de volta para sua casa o mais rápido que suas pernas conseguiram.
Ao chegar em casa, encontrou o pai sentado sozinho no sofá da sala. A TV estava desligada e a casa em um silêncio mortal.
“Onde está a mamãe?” Janey perguntou a ele.
“Ela está lá em cima tomando banho”, disse seu pai. “Vou dar uma olhada nela”.
Janey então se sentou no sofá enquanto o pai subia as escadas. A casa estava tão quieta que a deixou enervada. Ela não estava acostumada com tanto silêncio. De repente, ela ouviu uma série de batidas agudas e curtas vindo do andar de cima, seguidas por passos lentos e deliberados que ecoaram pelo teto e desceram as escadas. Seu pai apareceu na porta da sala.
Seus olhos estavam vidrados e ele tinha uma expressão estranha no rosto. Na mão direita ele segurava um machado grande e ensanguentado.
“Sua mãe acabou”, ele rosnou. “Agora é a sua vez de tomar banho”.
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